LIVE Diálogos Arendtianos #2: Banalidade do mal | Sábado, 25.07, 16h
23 de julho de 2020
Próxima live do Centro de Estudos Hannah Arendt
Diálogos Arendtianos #2
Sábado, 25.07, 16h
Banalidade do Mal: os perigos do não pensar
com Ludmila Franca-Lipke, Renata Nagamine e Vinicius Liebel
Existem vários conceitos arendtianos que são indispensáveis para entender o perigo que o governo Bolsonaro representa para a população brasileira. Embora não se enquadre como um líder totalitário nos moldes de Hitler, nem seja um burocrata como Eichmann, que só se preocupava em executar bem suas tarefas mesmo que essas tivessem como conseqüência a morte de milhares de pessoas, Bolsonaro incorpora muitos dos elementos que Arendt detectou como fazendo parte dos regimes totalitários.
Um dos elementos centrais do totalitarismo é que ele decorre e se realiza através do movimento: suas ações não buscam realizar objetivos viáveis, pois, uma vez alcançado o objetivo político proposto, a razão do movimento deixaria de existir e este cessaria. Neste sentido, Bolsonaro se preocupa apenas com a mobilização constante de seus eleitores, na medida em que muda de ideia todo tempo e não busca a conquista de algum objetivo específico. Realiza uma política da morte, onde a gestão da pandemia tornou evidente que ele opera com a ideia de que há pessoas supérfluas e descartáveis, que podem morrer em decorrência de uma epidemia que ele deveria gerir, mas, deliberadamente, prefere menosprezar e deixar fora de controle. E, como se não bastasse essa omissão criminosa, Bolsonaro mente sobre os reais riscos da doença, proibindo a implementação de medidas preventivas, como máscaras, quarentenas e distanciamento social, atuando de forma direta e engajada para a morte de um maior número de pessoas, ao estimular aglomerações e incutir na população a adoção de tratamentos já descartados pela medicina posto que ineficazes e até perigosos.
Seus seguidores e cúmplices na política da morte e da mentira alimentam as fantasias que dão corpo a esse mundo mentiroso que sustenta seu senso de propósito e identidade. O populismo bolsonarista tem a ânsia do controle total assim como os totalitarismos: cultura, educação, saúde, identidades, minorias, sexualidades, ciência e meio ambiente sofrem um ataque severo, sob a complacência e cumplicidade de diversos atores políticos e sociais. Muito além do fanatismo de sua base, Bolsonaro conta com o apoio daqueles que, em vista de interesses pessoais, corporativos ou ideológicos, embotam sua própria consciência para servir a um sistema criminoso. Cedem e cumprem os desmandos aos quais deveriam se opor, chegando até a se tornar agentes produtores de novas atrocidades, na sua função de agradar ao líder.
Este é o perigo que corremos hoje, com esse profundo desprezo pela realidade e pela verdade, que assola o país desde que os sujeitos passaram a se sentir isolados, desenraizados, abandonados e com a sensação que não há sentido para suas vidas. Venderam suas almas, suas consciências, delegando a clichês ideológicos e frases prontas a tarefa de informar o juízo e a cognição. O perigo real da morte, da destruição e do medo como motores da vida pública, onde não será mais possível distinguir fatos de opiniões, a verdade da mentira e a realidade de fantasia. Ao acordar deste pesadelo da razão, para aqueles que sobreviverem, será necessário prestar contas de seus atos. E, neste momento, olharemos para o espelho e veremos um assassino, um genocida, um covarde ou, no mínimo, um fanático, com o qual deveremos nos reconciliar. Este é o alerta que Arendt nos deixa ao criar o conceito da “banalidade do mal”.
Cláudia Perrone-Moisés e Ludmila Franca-Lipke
Centro de Estudos Hannah Arendt
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2 Comentários
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Excelente iniciativa. Vamos assistir com muito gosto. Parabéns.
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Excelente reflexão. Estou repassando.
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